quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Cenas de mulheres infertéis

As mulheres inférteis, ou que passam por um episódio de infertilidade pelo menos em uma altura da vida, entenderão este post. Quem já passou pela infertilidade concordará comigo com certeza nestas coisas:

- As mulheres inférteis não ficam plenamente felizes com as gravidezes de familiares e amigos.  
Este é o tópico que mais me incomoda escrever. É com imensa vergonha de mim própria que sinto isto. Mas por mim, gravidas e recém-nascidos agradeço que não façam parte do meu dia a dia. Vão viver e ser felizes longe da miséria em que por vezes me sinto.

- Em algum momento de suas vidas tornam-se profissionais menos competentes.
Não é que de repente se tornem menos competentes e profissionais, mas fazer 5 ou 6 ecografias por tratamento,  já para não falar das ausências (pelo menos no dia da punção e da transferência), dão cabo de qualquer eximidade laboral. Basicamente somos obrigadas a faltar, sair mais cedo, chegar mais tarde, um montão de vezes. Já para não falar que o pensamento de vez em quando (praí de 5 em 5min) nos foge para assuntos como FIVs, TECs e afins. Lá se vai o rendimento laboral.

- A auto estima anda pelas ruas da amargura.
E não é só o que inchamos quando fazemos um tratamento ou as borbulhas que nos aparecem devido à desregulação hormonal. É mesmo este sentimento de "não sou capaz de dar um filho ao meu marido".

-Têm rotinas e amizades estranhas.
Quando me lembro que ir ao ginecologista ou tomar a vacina do tétano me aterrorizava dá-me imensa vontade de rir. O ginecologista torna-se o nosso melhor amigo e as picas tornam-se rotina. Normalmente quem passa pela infertilidade mantém o assunto num círculo restrito de familiares e amigos (para quê anunciar o mundo a nossa luta? não nos podem ajudar em grande coisa), logo o ginecologista, além do marido, é das poucas pessoas com quem falamos sobre estas coisas. 

- São obrigadas a lidar com a desilusão desde cedo.
Todas sabemos que nem sempre isto dos tratamento corre bem à primeira. Por vezes nem à segunda nem à terceira. Quem percorre este caminho sabe que são muitas as desilusões até à tão esperada boa nova (quando há boa nova). Todas sabemos também quanto custa um tratamento mal sucedido. É daquelas coisas que custa a superar.

Mas nem tudo é mau minhas queridas. A parte boa, e é imensa, é que a infertilidade é um ensinamento para a vida. Aprendemos a lutar por um sonho, sim um sonho porque nem sequer sabemos se algum dia se irá realizar, com todas as armas que temos. Descobrimos que somos mais fortes do que algum dia imaginamos. Aprendemos a gerir emoções e a viver o dia a dia sem grandes ilusões. Aprendemos, e isto é a grande lição disto tudo, a dar valor às pequenas coisas e às pequenas conquistas. Infelizmente, também aprendemos a lidar com todas as coisas más que enumerei em cima. 

2 comentários:

  1. Ai minha querida este teu post pôs em palavras os medos que me assistem. Eu neste momento, como pouco mais tenho feito do que esperar, ainda não estou em falha com muita coisa mas, como se gere o local de trabalho se ninguém sabe da nossa luta? Quando foram as primeiras consultas menti muito, tive muitas consultas de "alergologia" mas e agora? Que vamos dizendo? Medos medos

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    1. Continuar a mentir... a "fintar a verdade" como eu costumo dizer. Tu é alergologia eu é dermatologia ;) Entretanto tive que confessar que tenho quistos nos ovários (que é verdade!) que têm que ser vigiados para evitar cirurgia foi colando. Mas agora, durante o tratamento, limitei-me a sair mais cedo nos dias das ecos e ninguém me fez muitas perguntas e eu fugi sempre ao assunto. Como faço o tratamento numa clínica privada posso fazer as ecos perto da hora de almoço... não preciso de faltar, apenas sair mais cedo. Mas claro que os meus colegas desconfiam que algo se passa... mas respeitam o meu espaço. Quanto à punção... acho que amanhã vou ter uma gastroentrite. Enfim... temos que ir vivendo da melhor forma que podemos. Quando fores tu certamente que irás encontrar a melhor solução :)

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