quarta-feira, 28 de março de 2018

Sobre isto do kir e da realidade que nos trouxe

As notícias ontem não foram as melhores. Mas pelo menos trouxeram-nos algumas justificações para poderemos encarar o futuro. 

Basicamente não é por sabermos a realidade das coisas que elas se alteram. Eu sempre tive esta condição, sabe-la não a torna pior. Na verdade até é melhor pois permite fazer a terapêutica que acham adequada nestes casos. Que alguma coisa se passava já nos sabíamos, tinha que haver um motivo para o insucesso. Com as taxas de sucesso das técnicas de PMA de hoje em dia, bons embriões e bom endometrio tem que haver gravidez (de termo de preferência). Se não há é porque há mais alguma coisas. Nos últimos tempos tenho sabido de imensos casais de recorrem à PMA e todos foram bem sucedidos. Agora entendo o porquê de nós não sermos. Continua a ser uma porcaria esta realidade, não a posso alterar, mas pelo menos entendo-a. 

Ontem eu e o meu marido traçamos um plano. Não sei se o cumpriremos, pois nunca se sabe, mas pelo menos temos uma base. Após esgotarem-se estes embriões, vamos fazer o tratamento que for imunologicamente melhor. E aqui há muita coisa que ainda não sabemos. Teremos que nos aconselhar com a Dra. C. e fazer análises para saber se o conjunto do meu material genético + o do meu marido dará embriões "neutros" ou se será vantajoso adicionar uma dadora que será estudada para dar a tal "neutralidade". Bem marado isto!!! Após esta conclusão faremos um dgpi ou uma nova doação. E depois acabou. Encerram-se as portas da PMA. Tentamos tudo que podíamos. Depois disso tentaremos naturalmente durante algum tempo. Depois existe a amniocentese. E depois logo se vê.... Mesmo naturalmente pode ser que nunca aconteça. E se assim for é porque terá que ser. Iremos olhar para trás a saber que tentamos tudo que podíamos. O meu marido pensa que mais um ano e temos o assunto da PMA resolvido (com ou sem sucesso). Até lá, vamos vivendo.

terça-feira, 27 de março de 2018

Resultado kir

Finalmente sei o resultado da análise.
E obviamente não são boas notícias. Tenho o perfil mais hostil para embriões.

O que significa isso? Significa muitas coisas.
Explica todo o processo até aqui. As falhas de implantação e até o aborto.
Significa que terei que fazer um corticoide de baixa dosagem 7 dias antes da transferência e aspirina após a transferência e a gravidez toda, caso um dia aconteça. E estas são as coisas boas.

As coisas más é que significa que só embriões muito neutros implantarão no meu útero hostil. E neste momento ainda temos 3 embriões que temos que usar sem poder optimiza-los. Num próximo tratamento será possível combinar o perfil do meu marido com o de uma futura dadora que seja o mais neutra possível para que os embriões sejam o mais neutro possível. Para ver se um dia isto acontece.  

Eu agradeço toda esta informação que a ciência atualmente nos dá. Até há 1 ano atrás a explicação era que simplesmente não dá... ou dá após muitos, muitos tratamentos, e com um alinhamento astral brutal. A realidade é que notícia é muito má. É a primeira constatação real, inequívoca que o meu caso de fertilidade é do pior. A Dra. C. não disse que era impossível... disse que era possível basta encontrar o embrião o mais neutro possível. Signifique isso o que significar, que até eu estou com dificuldade em assimilar todos estes conceitos. 

Agora tenho que parar a pílula e transferir os embriões restantes. Em casos como o meu transferir 2 é muito pior. É fácil de perceber porquê... é o dobro de material genético estranho para o meu organismo rejeitar.  E aqui não é necessariamente pior ser uma doação. A incompatibilidade pode estar simplesmente no meu marido. Não é correto chamar-lhe incompatibilidade. O correto é dizer que o meu perfil uterino como é hostil (o mais hostil possível) pode rejeitar apenas o material genético do meu marido. Mesmo que o restante fosse meu. O dele seria o suficiente para explicar tudo isto. Uma nova doação até pode ser uma coisa boa... boa porque podemos procurar uma dadora que até tenha a parte dos antigénios melhores que os meus (o que explica o perfil hostil é a parte dos anticorpos). Análises e análises que terão que ser feitas.

Para já significa que terei que fazer 3 transferências até esgotar estes embriões . (Não sei se será bem assim... depois desta TEC posso escolher transferir 2 e assim esgoto-os de uma vez, mesmo sem o apoio da Dra. C.).

Se não tivesse recorrido à PMA devido ao meu problema genético certamente seríamos aqueles casais que tentam meses a fio até acabar na PMA na mesma com uma infertilidade inexplicável. Ou então teríamos sorte... este perfil uterino não significa que é impossível engravidar. Significa que é preciso uma sorte do caraças. 

E é isto a minha vida. Quando mais vasculhamos mas porcaria descobrimos. Lá está... eu sei que não vai correr bem. Já há muito tempo que sei... só vou persistir até onde o meu marido quiser, porque somos uma team

sábado, 24 de março de 2018

state on mind

Learn to let go you'll know what and when, when the time comes

Eu sei que o mood deste blog não tem andado grande coisa e que daqui a pouco ninguém tem paciência para as minhas lamurias. Até nós que andamos pela infertilidade gostamos de blogues positivos, blogues de pessoas optimistas e prontas a enfrentar as maiores tormentas. 

Atualmente eu não sou essa pessoa. Já nem sei bem que pessoa eu sou para dizer a verdade. Sou uma pessoa que a cada notícia de uma nova gravidez (e tem sido uma constante...) sente que não aguenta mais. Sente que está ali no limite entre atirar de vez a toalha ao chão e dizer ao mundo de uma vez que NÃO TERÁ FILHOS. É triste? É. Mas é a vida. Acontece é que o meu marido não está pronto para desistir. E nem sequer sei muito bem porquê... 

Tenho perfeita consciência que não ficará mais fácil quando encerrar os tratamentos de vez. Acho até que aí é que começará o verdadeiro tormento. Mas fazer tratamentos nos quais não depositamos a menor fé, também não é fácil. 

A porcaria do resultado da análise que já devia ter saído, não saiu. Não que esteja muito preocupa com a sua sentença. Não mudará nada saber que sou incompatível a embriões (nem sequer é um resultado tão conclusivo que a análise dará, se desse já era bom). Não tenho alternativa a não ser transferir os últimos 3 embriões. Se pelo menos tivesse autorização para transferir os 3 de uma só vez.... Estas inquietações é que me levam a ponderar se não terei mais paz quando acabar com isto de uma vez. 

Eu sei (chamem-lhe o que quiserem, intuição, sexto sentido, o que quiserem) que não vai acontecer. Não vai ser pela PMA que terei um filho, se é que algum dia terei, para ser sincera acho que nunca terei.

segunda-feira, 19 de março de 2018

O que poderia ter sido

Hoje é um dia muito difícil. Muito duro.

Estiveste quase meu amor. Se a vida fosse diferente hoje seria o teu primeiro dia do pai. Mas a vida não tem sido fácil para nós. Por minha causa nunca irás festejar este dia. Irás ter a sociedade a olhar para ti como se de uma ave rara te tratasses, pois escolheste traçar este caminho inglório comigo. E eu tenho um aperto no coração do tamanho do mundo.

segunda-feira, 12 de março de 2018

Análise feita, ciclo adiado

Hoje fui fazer análise sanguínea para o kir. Noutros tempos teria ido logo o correr fazer o exame, tipo logo no dia a seguir a ter falado com a Dra. C. Desta vez esperei por um dia que me fosse favorável e não me prejudicasse no traballho. No máximo daqui a 10 dias sai o veredicto, pode ser menos dias. De qualquer das formas ficava muito apertado fazer a TEC este ciclo. Até porque a preparação para a TEC pode ser diferente conforme o resultado do exame. Amanhã começo uma nova caixa de pílula, pelo menos até ao resultado da análise. Ufa... que alívio! Tempos iam em que tinha ânsia de fazer tratamentos. Nos dias de hoje só quero estar assim quieta no meu canto a fazer de conta que nada se passa. (Como se isso fosse algum dia possível?)

O meu feeling? É que vai estar "tudo bem". E vamos continuar na mesma. Por um lado preferia que não estivesse. Para além de me dar uma resposta para o insucesso, dar-e-ia alguma paz. Os tempos que se seguem não serão nada fáceis aqui para os meus lados. A motivação para fazer as transferências é cada vez menor. Já não tenho a mínima esperança. É andar por andar. É um sentido qualquer de masoquismo que me leva a continuar a "chover no molhado". 

O universo já me deu indícios que a maternidade não é para mim. Eu é que não estava a querer vê-los. Tenho pensado muito nisso... tentado visualizar a minha vida sem filhos. E não tenho desgostado do que visualizo. Obviamente que não era o que idealizei para mim. Quer dizer... confesso que em determino período da minha vida, foi exatamente isso que idealizei para mim. Quando se descobriu a mutação na minha família, tinha eu 12 ou 13 anos, jurei que se a tivesse jamais me iria apaixonar e iria viver a vida despreendida, ao sabor do vento. Mas depois conheci o meu marido... o amor da minha vida. Que quis ficar comigo... e eu comecei a pensar nas alternativas para a vida despreendida. Foi aí que se começou a fazer o Diagnostico Genético Pré-implantação.  E aí eu comecei a pensar que afinal havia alternativa... podia sonhar em dar um filho ao amor da minha vida. Mas afinal nem para todos corre bem. Hoje até há tratamentos menos conservadores como a doação de gâmetas, mas ainda assim não é para todos que corre bem. 

Eu sei que ficarei bem. Apenas tenho que fechar todas as portas abertas até agora. E depois fecha-las com a chave definitiva e não pensar mais nisso. Viver com a mágoa e nada mais. Só me falta arranjar a coragem para continuar a fecha-las e depois para atirar a chave fora. 


quarta-feira, 7 de março de 2018

Next step

Vamos lá ver se o meu útero é receptivo ou hostil a embriões... para já vamos só ver isso. Se tiver o tal perfil complicado terei que fazer uma preparação específica para a TEC há base de corticoides e anti-inflamatórios. Vamos ver o que irá sair desse exame. Por um lado gostaria de encontrar uma justificação... por outro prefiro ter o perfil favorável. Sempre haveria alguma possibilidade... 

Quanto ao próximo tratamento a Dra. C. diz que compreende que tenhamos que pensar aí há frente para estarmos emocionalmente mais fortes, mas ela tem esperança que se resolva antes disso. E se o caminho para nós for um dgpi ela estará 100% connosco. 

Provavelmente o resultado do exame não sairá a tempo de fazer a tec este ciclo. Terminei a pílula ontem, amanhã ou depois virá a menstruação. E eu não fico mesmo nada triste com adiar mais um ciclo. Por um lado tenho que despachar isto, por outro, não estou nada pronta para passar por tudo novamente.

domingo, 4 de março de 2018

Voltar à realidade

Amanhã volto à realidade. Depois das férias, depois de durante alguns dias "cortar relações" com a minha realidade. E amanhã vai chegar a hora de falar com a Dra. C. Ainda não tive oportunidade de conversar com ela, após a última TEC. Falamos por email, mas muito pouco, após lhe relatar os nossos receios ela disse que gostaria de falar comigo quando regressasse de férias. E isso será amanhã. E eu não tenho vontade nenhuma de voltar a pensar nesse assunto. De enfrentar a realidade.

Existem as pessoas negativas, pessimistas. Existem as otimistas (ainda bem que o meu marido está neste grupo), que vêm sempre o copo meio cheio. Depois existem as realistas. E aqui me enquadro eu. Eu não acho que vai correr mal, simplesmente porque sim. Eu analiso as situações e depois tiro as minhas conclusões. E a conclusão que eu tiro destes últimos 2 anos é que não vai acontecer. Não é simplesmente por protecção que o digo. É porque analiso o meu historial. Não vai acontecer. 

Por isso estou a preparar-me para isso. Para não ter filhos. A adoção não está fora dos nosso planos mas ainda temos que pensar muito bem sobre isso. E o meu marido ainda não chegou lá. Ainda quer um fazer um novo tratamento... Eu compreendo-o. Ele demorará o seu tempo, mas vai chegar lá.

Neste momento estou perdida ali algures entre a desilusão e a tristeza por esta triste sina, e a ideia que posso ter uma vida feliz, apenas com outro sentido. O que dói mais é a vida lá fora... o importante somos nós, é a nossa vida, é o que trazemos e vivemos cá dentro, mas depois somos diariamente confrontados com a realidade dos outros e percebemos que era lá que queríamos estar. Não na nossa, na deles. E quando a esperança é uma coisa do passado, apenas temos dias bons, em que damos valor às coisas maravilhosas que temos na vida, e dias maus em que perguntamos o porquê da nossa pouca sorte.