quarta-feira, 30 de maio de 2018

Nós por cá

Sinto necessidade de escrever alguma coisa, mas nem sei por onde começar... talvez pelo facto de neste momento não sei se continua a haver vida no meu útero... tenho consulta com a obstetra aqui do Porto na próxima segunda feira e (se não acontecer nada até lá) aí saberei se continua tudo a evoluir. 

Mete-me um bocado de nervos ir a uma médica que nem conheço. Não sei que género de empatia terei com ela. Foi bastante dificil esta escolha e acabou por ser um bocado ao acaso. Difícil porque antes da infertilidade tinha ido a uma ginecologista uma vez na vida! Procuramos alguém que trabalhasse no CMIN e assim alguma experiência em gravidez resultantes de PMA, mais concretamente em ovodoação, mas não sei se acertamos. Vamos ver... espero chegar a conhecer a senhora. 

Amanhã entramos na 9.ª semana. Continuo com menos energia que o meu estado habitual, mas penso que ja estive pior. Agora a minha hora de dormir é às 22:30 no máximo e tarefas como fazer o jantar e comer no fim do dia de trabalho me deixam exausta... já passei por uma fase de me apetecer comer este mundo e o outro e esse reflete-se na balança, o prémio já foram 2kg :( Agora não tenho tanta fome e pelo contrário por vezes a comida incomoda-me... mas tenho fome! É muito difícil esta relação com a comida... Graças a esses  2kg indesejados (acho que se deve só a eles) já não me sinto confortável com as minhas calças habituais mas não me apetece comprar roupa (e isto é uma novidade para mim!! Eu sempre adorei comprar roupa!). Não me apetece porque não sei o que aí vem... não quero comprar roupa que depois não irei utilizar. Hoje por exemplo a tensão mamária diminuiu... e inversamente aumentou o meu medo que esta gravidez já tenha chegado ao fim. 

Quanto à terapêutica, às 8s + 1 dia deixei a progesterona intramuscular. Agora só me acompanham o Lovenox e o Cartia. Claro que tive muito receio de parar a progesterona, embora confie na Dra. C. Para me sentir mais tranquila “obriguei” o médico lá de casa a fazer uma busca científica em relação a isso e pronto sentimos-nos mais confiantes em parar com as injecções intramusculares. O meu rabo agradeceu. 

Embora continue com muito, muito medo que esta gravidez não evolua, embora continue com pânico de passar por um aborto e que este seja mais complicado que o outro... (é horrível dizerem-nos que já não há vida dentro de nós, é horrível um aborto retido). Embora tudo isto, e uma vez que já não vejo sangue há muito tempo, já me permiti relaxar um pouco... já dei por mim a sonhar que este embrião tornou-se um bebé... mas não posso permitir-me a esses devaneios. Ainda não.

Neste momento tenho saudades de mim. Se era suposto esta ser uma fase feliz, o que eu sinto é apenas medo... já não me lembro de sorrir sem preocupação. Sinto saudades de sentir paz... deitar-me na almofada e sentir apenas paz... eu só sinto medo e preocupação. Não sei como as outras mulheres passam por isto, mas eu já não me reconheço. Uma coisa tenho a certeza, estes anos na infertilidade, mas principalmente o aborto, deixaram moças em mim que ainda nem tinha noção que as tinha. 

quarta-feira, 23 de maio de 2018

2.ª eco - 7 semanas + 6 dias

Parece que está tudo bem! Que alívio... posso respirar por mais uns dias (caso não aconteça nada em contrário como da outra vez).

Estava a ver que morria de nervos antes da eco. Definitivamente tenho que aprender a controlar estes nervos. Ficar ansiosa como eu fico não pode ser nem bom nem normal. Tenho que afastar estes pensamentos e sentimentos menos bons. Tenho consciência disso mas passar à prática são outros 500.

Hoje ouvi o coração do meu embriaozinho e vi as estruturas que são possíveis ver nesta fase. A cabeça, o esboço do que serão os membros e cordão umbilical. Segundo a médica estava tudo bem. Da outra vez também estava tudo bem nesta ecografia e passado 1 dia ou 2 parou de evoluir... para mim esta será a fase mais crítica. Mas nada posso fazer para prever o futuro e além de cumprir a medicação criteriosamente também não posso fazer nada para evitar que possa acontecer o mesmo. Certamente que muitas me compreendem... uma gravidez lutada e sofrida como a minha, após um aborto... não é fácil sossegar o nosso coração. 

Obrigada a todas que me tranquilizaram com a questão da tensão mamaria. Isto é coisa para nós deixar a cabeça em água... uns dias mais que outros. Isso é as cólicas que sinto... até ver devem ser bom sinal pois está a evoluir, mas às vezes fico mesmo preocupada. Acho que tenho saudades de ter alguma paz... de não estar sempre a pensar e com medo de coisas... 

No entendo hoje é um dia feliz. Tenho que me permitir a ficar feliz com as pequenas conquistas. 

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Nós por cá

Continuamos na mesma. Faço menos coisas que aquelas que anteriormente fazia, e sinto-me mais cansada que nunca. 

Com o tempo vou-me habituando a viver nesta ansiedade. A ausência completa de sangue também ajuda a que consiga viver estes dias com alguma tranquilidade. Mas continuam a não ser dias fáceis. Hoje por exemplo acho que sinto menos tensão mamária que nos últimos dias, logo pode ser um sinal de que o embrião parou de desenvolver. Continuo apavorada com o momento em que me irão dizer "não temos boas notícias". Esse momento pode ser já na eco da próxima quarta feira. 

Vejo tantos casos de sucesso após uma perda gestacional que por vezes ganho algum alento. Desta vez estou a fazer medicação que antes não estava... Pode ser que ajude. Por falar em medicação, o Lovenox embora por vezes deixe algumas pisaduras, dá-se bem, a progesterona intramuscular já não está tão fácil assim. O meu rabo pede clemência... teoricamente este semana termino a sua administração, às 8 semanas (se chegarmos lá). Na minha anterior gestação o embrião parou de desenvolver às 8s+ 1 ou 2 d... estamos quase a chegar lá e eu estou com um medo que nem vos conto. 

Gostaria de fazer posts felizes, positivos, mas não é assim que sinto esta implantação, até escrever "esta gravidez" me custa. Parece-me demasiado precoce.... Embora seja isso que sinto, estou profundamente agradecida por este embrião ter implantado. Gostava muito que corresse tudo bem (na verdade não vai ser nada fácil continuar esta luta caso não corra bem desta vez). Adorava contar à nossa família a boa nova... adorava viver todas as mudanças que um filho traria à nossa vida. Mas para já tudo isso continua no plano do longínquo, do hipotético. 

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Pensamentos vários

Nesta fase da minha vida gostava de acreditar em Deus. Em algo superior... seria mais fácil ser menos cética. Admiro quem tem a sua fé e a consegue cultivar. Eu nunca tive muita, mas os últimos anos fizeram com que duvidasse de tudo. Acredito na ciência e no acaso.

Gostava de acreditar em algo divino, e de acreditar que desta vez iria ser generoso comigo. Mas não acredito e como tal vejo-me cheia de medos e de ansiedades e, pior que tudo, com absoluta certeza que irei passar novamente por um aborto. E esse sentimento é aterrador. Só queria afastá-lo de mim... Inclusive sonho com isso, com o momento em que me irão comunicar que esta gravidez chegou ao fim. Não me permito nem por um minuto a fazer planos bem sucedidos. Não posso alimentar ilusões. Mas não consigo pensar onde irei arranjar forças para sobreviver a isso. E forças para continuar a lutar por um filho. Se esta gravidez acabar secalhar acaba esta jornada também. Ou então não, que às vezes vamos buscar forças sei lá onde.

Quanto a factos, desde a terça passada não há sinais de sangue. E isso tem de maravilhoso como de aterrador. Quando houver, será o pior cenário possível. A tensão mamária está instalada e desta vez sinto algumas cólicas de vez em quando. Isso e o cansaço que se apoderou de mim... no final do dia de trabalho só me quero esticar no sofá. Digamos que desde que fiz a transferência, primeiro por causa da febre, e agora por causa das hormonas, me sinto muito menos ativa e útil que antes. Imaginem agora com dois cães em casa, um bebé com 4 meses, sempre a desafiar o outro (que se encontrar a recuperar de uma cirurgia ao ouvido) para brincar... é uma aventura. Mas não me importava nada de continuar nesta aventura por mais uns meses. Coitado do meu marido que tem que "trabalhar" muito mais em casa para as coisas andarem (mais ou menos) na linha. 

quarta-feira, 9 de maio de 2018

1.ª eco - 5 semanas + 6 dias

So far so good.

Está tudo bem. O embrião está no sítio e tem as dimensões expectáveis para o tempo de gestação.
Estava tão nervosa que pensei que o coração me ia sair do peito...

Bem sei que nesta ecografia estar tudo bem, é simplesmemte mais um passinho. Sei-o bem demais até. Continuo com muitas dúvidas (medo!!) que vá correr bem. Pode parecer estranho, mas o que me dá alguma esperança é o beta ter começado de forma “cautelosa”. Tenho visto tantos betas fantásticos ao 11.º dia que depois terminam em abortos retidos que poderá haver uma relação... ou então são só suposições minhas sem lógica nenhuma. Hoje, pela primeira vez, permiti-me sentir alguma felicidade. 

Em boa hora resolvemos fazer está tec. Ainda pensamos em adiar um ciclo para irmos de férias. Se o tivéssemos feito, agora não sei quando faríamos a trasnferencia. Nem sequer sei se a faríamos... os dadores terão mesmo que ser contactados para autorizarem o não anonimato para que os tratamentos em curso possam dar continuidade. E a questão é que podem não autorizar... e se a minha dadora não autorizar, os 2 embriões restantes não poderão ser utilizados. Basicamente, sem termos consciência nenhuma disso, está transferência poderá ter sido a última. Se esta gravidez não evoluir não sei como será... talvez teremos que fazer um dgpi. As alternativas têm que estar traçadas, mas para já não quero  pensar nisso. Quero pensar que daqui a algumas (muitas!!!) semanas terei o nosso filho nos braços. Mas pode não acontecer.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Sobre o dia de ontem, o dia da mãe

O dia da mãe nunca teve o efeito em mim  que o dia do pai provoca e a razão é simples: tenho o prazer de festejar esse dia com a minha mãe, que obviamente é um dos pilares da minha vida. Para mim esse dia é dela. Continuo a achar que estes dias não deveriam existir. A dor que provocam em algumas pessoas não compensa a alegria, e até banalidade, que provoca na maioria. Mas isso é só a minha opinião.

Mas este ano obviamente que senti este dia de forma diferente. Se as coisas tivessem corrido bem eu também já seria mãe. E isso é uma dor que me acompanha sempre, e ontem senti-a de uma forma mais intensa. Por outro lado não posso ignorar que neste momento tenho mais probabilidade de ser mãe do que tinha há 1 mês atrás. Nem sei se voltarei a ter esse oportunidade. 

Na quarta é dia de eco com a Dra. C. e eu já imaginei cenários medonhos na minha cabeça. Uma gravidez ectópica ou um saco sem embrião são cenários que me atormentam. Nunca se sabe... 

O corrimento ensanguentado voltou na sexta-feira, mas foi só nesse dia. Em 7 dias apenas 1 dia saiu (perdoem-me a descrição, mas pode vir a ser-me útil no futuro). Acho que a tensão mamária continua por cá assim como umas moinhas na barriga, principalmente do lado esquerdo (daí a sugestão da gravidez ectópica). Se estiver tudo bem, sei que é normal estas moinhas pois está a haver transformações no meu útero. 

Gostava tanto que corresse tudo bem desta vez. Gostava tanto de dar este filho ao meu marido. Gostava tanto de ter certezas neste momento. Não sei viver nesta indefinição. A única certeza que tenho é que faria tudo para que corresse bem. 

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Pensamentos soltos

Na verdade não sei muito bem que título dar a este post...

Em teoria hoje entramos na 5º semana, na prática nem sei. Eu gostava de estar confiante, a sério que gostava, até em sinto mal por depositar tão pouca fé nesta implantação. Não sei se é pouca fé ou apenas medo. Aquele medo que senti em junho do ano passado, mas que era um medo inocente. Este medo que sinto, não é inocente. É medo de passar novamente por um aborto. Medo do abalo físico e emocional que isso é. Fisicamente até nem foi muito mau, mas vejo cada relato que até me assusto e fico a pensar que desta vez será assim. Basicamente tudo que não devia estar a pensar, estou.

Eu até sou uma pessoa equilibrada, a sério que sou, mas quando tenho um beta positivo o meu mundo vira do avesso e deixo de me reconhecer. Secalhar as hormonas não estão a ajudar muito neste meu estado de espírito.

A ecografia com a Dra. C. será na próxima quarta feira, dia 9. Só de pensar nesse momento até gelo. Outras vezes até penso que não será preciso chegar a esse dia pois terei um mau desfecho antes. Quanto ao corrimento ensanguentado que por vezes me aparecia, desde dia 1 a meio do dia que parou. Quis tanto que parasse que agora só penso que secalhar deveria ter continuado... tinha esse corrimento e o beta aumentou por isso, secalhar estava tudo bem.

Deixei de beber café e nem sei muito bem porquê. Não quero ficar a pensar que não correu bem por alguma coisa que eu tivesse feito. Obviamente que a culpa não é do café, até porque da outra vez também deixei de beber. Também me sinto muito emocional, qualquer coisa me fazia chorar. Fazia, porque essa fase mais emocional parece que já passou. Mas mesmo assim sinto-me muito mais carente... carente e cansada. Sinto um cansaço enorme ao final do dia, mas não é que adormeça facilmente, pelo contrário tenho tido algumas insónias. Tirando isso a tensão mamária já se faz sentir desde o início da semana. (Pareço uma maluquinha a tocar nas mamas a ver se continuam a doer... caso deixem de doer, já sei!).

Desta vez nem aquelas fantásticas aplicações para o telemóvel instalei. Só gostaria de ignorar o que está a acontecer no meu útero e viver normalmente, mas a minha cabeça afetada não me permite tal privilégio. Como vêm não está nada fácil aqui para os meus lados. E deveria estar feliz.... caramba... este embrião implantou!!! Não tenho nenhuma prova de que alguma coisa está errada. Só queria adormecer e acordar no dia 9. Ou melhor, acordar lá para o final do ano com um bebé a chorar em casa.