quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Cenas de mulheres inférteis - Parte II

Se há uma coisa que a infertilidade nos dá, é a capacidade de saber esperar. E isto é um work in progress que nunca fica fácil (acho que fica mais difícil com o tempo até). Senão vejamos:

Espera pelas consultas.
E nisto de andar a correr para o médico, poucos nos batem. Primeiro são as consultas de diagnóstico, depois as consultas para mostrar e/ou fazer exames. Durante o tratamento propriamente dito são inúmeras as ecos. E no fim, corra bem ou mal, ainda temos uma última consulta de controle.

Espera entre as consultas.
E aqui introduz-se o fator ansiedade e nervos. Começa a ansiedade "será que está tudo bem" "será que vamos poder avançar no próximo ciclo". Tudo perfeitamente controlável até aqui.

Esperas durante o tratamento.
Primeiro a espera que os folículos estejam boas para puncionar. Esta espera até se leva na boa. Estamos absorvidas em emoção e a coisa vai-se levando até à punção. Após a punção começa a espera mais angustiante para mim. Saber se irá haver embriões para transferir. Em casos de dgpi como o meu, esta espera é verdadeiramente difícil. Arrisco dizer que é a espera pior, são "só" 4 dias mas valem por 4 anos. Finalmente, quando corre bem, existe a derradeira espera - a espera pelo beta HCG. Isto quando não somos surpreendidas antes com o red como eu fui. Depois existe a espera numa preparação de TEC. Esperar que o endometrio esteja no ponto. Mas sobre isso nada sei (ainda).

Espera que se inicie um tratamento.
Esta espera é a mais longa. É nesta espera que temos tempo para reflectir. Há dias que estamos otimistas e há dias de cão, em que nos apetece desaparecer para uma ilha deserta onde ninguém que nos rodeia esteja à espera de bebé. Onde as nossas amigas falem de outra coisa além dos seus maravilhosos rebentos ou de como é uma canseira esta coisa da maternidade. E aqui até nem me posso queixar muito... tenho o privilégio de ser seguida no privado onde as esperas são mais curtas. Mas mesmo assim a ideia da ilha deserta ocorre-me com bastante frequência. Tipo agora que me vejo em Bali com um gin tónico numa mão e um mojito na outra. Com menos 10 anos de preferência. (tão feliz que eu já fui).

Espera por uma doação de gâmetas.
Aqui estou eu, nesta espera que é uma estreia para mim. Pouco posso fazer a não ser ir vivendo um dia de cada vez o melhor que posso. Esperar pelo altruísmo de alguém que pode tornar a minha casa e a minha família mais feliz.

Esperar que corra tudo bem.
Na grande maioria do tempo não podemos fazer mais nada além disso mesmo. Esperar que corra tudo bem. Parece fácil, mas é bem difícil esta espera. É nesta espera que temos que nos superar dia após dia. Por vezes dou por mim a pensar como um ex-alcoólico ou ex-toxicodependente - mais um dia que passou em que venci. E para mim vencer é não entregar-me ao pessimismo e à tristeza. Aqui entra a arte disto tudo. Aprender a esperar tranquilamente e a viver um dia de cada vez agradecendo as coisas boas que temos.
Às vezes é difícil como o raio esta espera. 

2 comentários: