quarta-feira, 26 de abril de 2017

State on mind

Eu considero-me uma pessoa forte. Não é presunção... conheço muita gente que não tinha passado metade do que eu já passei da mesma forma que eu. Tenho um diagnóstico de uma doença genética. Não sei se morrerei antes de sequer os primeiros sintomas dela, na verdade posso ter um acidente de carro, uma qualquer outra doença antes dessa e morrer de qualquer maneira. Perdoem-me a dureza das palavras, mas quando se vive com essa sentença, a morte deixa de ser tão assustadora e longínqua. Adiante... Graças ao meu marido, que até hoje não entendo como escolheu traçar este caminho comigo, ele diz que é o amor, eu digo que é alguma espécie de masoquismo que ele sente, mas graças a ele eu consigo viver o meu dia a dia relativamente feliz. Temos uma vida cheia de amizades (que eu tendo cada vez mais a afastá-los), e tirados os nossos pais que já faleceram, temos umas mães maravilhosas e uma família que é a nossa base, tanto a minha como a dele. Tenho muita coisa boa na vida, e até à bem pouco tempo, focava-me nisso e conseguia ser feliz. Mas agora é cada vez mais difícil. 

Hoje tive que partilhar com a minha entendida patronal que estou a fazer um tratamento. Tenho-me ausentado cada vez mais, pelo menos uma vez por semana tenho ido a Lisboa e isso implica faltar ao trabalho (ou de manhã ou de tarde) e o meu patrão tem o direito de saber. Se o vai partilhar com alguém, não sei... se o fizer é a abertura da caixa de pandora. Além de tudo, lá terei que dar satisfações aos meus colegas e terei que lidar (ainda mais essa) com a pena no olhar das pessoas. E por mais isso é que é cada vez mais difícil. 

Se esta TEC não funcionar terei que rever muita coisa na minha vida profissional. Até o meu trabalho saiu afectado disto tudo. E no fundo eu sinto que não vai funcionar. Poderia enumerar uma série de razões, umas mais racionais que outras, para achar que não vai funcionar, mas acho mesmo que não vai ser desta. 

E com tudo isto a pessoa forte que achava que era, perdeu-se algures neste último ano.

Quanto à TEC decidi (por opção e por falta de opção) que não irei fazer repouso nenhum. A TEC será sexta (se é que se vai realizar... só acredito quando tiver o embrião cá dentro) e sábado retomo à vida normal. Desta vez não haverá repouso para ninguém. Se não resultar não pensarei que é por causa dos 300 km que farei no dia da transferência, nem do fim de semana prolongado em viagem de família que terei (com a "aprovação" da Dra. C. claro está), nem do endométrio que a única medida que sei é que estava a 7mm no 10º dia do ciclo, nem do spotting na altura da ovulação que felizmente já parou, mas que vai voltar com certeza, nem por ser um ovócito doado, será simplesmente porque não teve que ser. É assim que uma pessoa forte pensaria, e é essa pessoa forte que eu quero voltar a ser e o meu marido merece que eu seja.

5 comentários:

  1. Pronto...as lágrimas cairam...Isto não é justo para ti. Não é justo para ninguém.
    E não é presunção. És uma pessoa forte. Só quem o é passa por tudo isto.
    Há momentos (muito ) dificeis de ultrapassar mas vais conseguir.
    Espero que corra tudo bem na Sexta.
    Beijinho Grande

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  2. És, sem qualquer espécie de dúvida, uma pessoa muito forte. Ninguém merece passar por tudo o que já passaste.
    Venho dar-te um beijinho e dizer que amanhã estaras no meu coração e no meu pensamento.
    Beijinhos

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    1. Obrigada querida Dream :)

      É muito bom sentir o vosso carinho nesta altura em que nos sentimos mais frágeis...

      Beijinho

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  3. Espero que tenha corrido tudo bem e que já tenhas o teu guerreiro no "forninho".
    Beijinhos

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