segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Eu já sabia que ia ser assim

One of the hardest things to do in life, is letting go of what you thought was real. SEA

Mas caramba... custa tanto.

Eu sou boa a reagir perante as adversidades. Enfrento as situações e tenho como lema aceitar aquilo que não posso mudar. Eu já sabia que o pior no aborto não seriam aqueles dias... nem sequer os dias seguintes onde estive anestesiada e a lidar com a dor. Até foram bastante fáceis... aceitei que aconteceu e preocupei-me em seguir em frente. Sempre com o amor incondicional do meu marido. 

Mas agora, agora que passaram 3 meses é quando dói mais. É quando a dor chega a levar-me às lágrimas no carro ou em casa quando estou sozinha. É terrível ir ao shopping e ver as coisas de natal. Eu não quero viver o natal este ano. Poderia ser tão feliz e vai ser o mais triste de todos. É muito difícil estar com bebés e grávidas (que mais uma vez parece que há um baby boom por aí). Sinto-me miserável e mais miserável por me sentir miserável. E o meu marido merece muito mais de mim. Merece que eu seja feliz. Mas caramba... não está nada fácil. 

Estou prestes a fazer uma viagem que muitos gostariam de fazer, posso começar a preparar uma nova TEC quando voltar, mas só consigo estar presa a sentimentos tristes, a desilusões e frustrações, ao "agora poderia estar". E nem sequer estou muito preocupada com o futuro. Nem sei se a próxima TEC irá funcionar, nem sei se vai resultar a acabar da mesma forma que a anterior e eu estarei "oficialmente" a jogar no campo dos abortos. Obviamente muitas dúvidas me assombram... voltar a tentar um dgpi... será que com os meus ovócitos correria melhor?! O pior seria arranjar um normal. Tentar uma gravidez normalmente e fazer a amniocentese... afinal já sei o que é passar por um aborto. 

Estou perdida de todo. Só espero que as férias tenham um efeito de reset na minha vida. Preciso de encerrar este capítulo antes que dê em maluca.

15 comentários:

  1. Não consegui que não me caíssem umas lágrimas ao ler o teu texto! A dor não diminui, mas torna-se menos forte com o tempo! Vais lidando melhor com ela...
    Espero mesmo que as férias sejam o reset que precisas e que te dêm força para um novo ciclo! E quem sabe se o próximo natal já será acompanhado :)
    Um xi apertadinho!! **

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    1. No fundo eu sei que o tempo ajudar-me-á a lidar melhor com este sentimento de perda...

      Obrigada pelas palavras e pelo apoio...
      Beijinho

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  2. Vou partilhar contigo algo bastante doloroso que tenho vivenciado nestes últimos dias: se não tivesse abortado, o meu bebé nasceria por estes dias e é um pensamento que não tenho conseguido afastar da minha cabeça. Mas depois vêm um flashes de racionalidade que me dizem que se abortei é porque o bebé provavelmente não seria saudável e por umas horas esqueço-me da dor.
    Tenho também uma nova TEC pela frente e sei que tenho que arranjar forças para meter estes pensamentos para trás das costas e focar-me no futuro, afinal, passados 9 meses da minha gravidez, poderei estar a um passo de realizar o meu sonho.
    É um misto de sentimentos mas por vezes temos que nos obrigar a racionalizar isto para que consigamos seguir em frente.
    Um beijo enorme para ti (sei exactamente o que sentes e não, não estamos sozinhas!)*

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    1. Custou-me muito fazer este post... aliás o que custa é aceitar esta frustração. Provavelmente é normal sentirmos aquilo que sentimos. Não podemos ignorar que sofremos uma perda. Mas tens razão, toda a razão, se a natureza assim quis é porque foi o melhor... Mas tenho tanto medo da próxima tec sabes?... tenho mais medo que dê positivo que negativo. Embora deseje muito que dê positivo. Enfim...

      Beijinho grande e vai dando notícias :)

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    2. Percebo perfeitamente: quando fiz a minha segunda TEC também senti isso mesmo, a maior preocupação e receio seriam se obtivesse novo positivo porque nenhum negativo chegaria aos calcanhares do aborto. Resumo: tive um resultado negativo e não deixou de me partir o coração.
      Este processo é todo uma montanha russa de emoções! Esperar o melhor e estar preparado para o pior, se conseguirmos.
      Por mais tempo que passe, nunca esquecemos aquele ser que tivemos dentro de nós com um coração a bater. Vai-se mesmo aprendendo a viver com isso e lá está, tentando racionalizar o que aconteceu.
      *

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    3. Pois... muitas vezes eu penso "eu ouvi o coração a bater!" "eu vi o cordão umbilical a ligar aquele ser a mim!" como pode 1 ou 2 dias depois ter deixado de bater... Será que foi o meu corpo que foi incapaz de ajudar aquele ser a desenvolver?!... Mas depois penso nos inúmeros abortos que existem, e quero agarra-me ao facto deste simplesmente não ter sido o embrião certo... quero acreditar que o próximo é que vai ser!! Mas enquanto isso tenho quistos foliculares a lembrem-me da dificuldade que terei em uma nova implantação...

      Esperar o melhor estando preparado para o pior é assim que deveria ser. Mas é inevitável os negativos tirarem-nos o chão. Será que sairemos vencedoras desta treta da infertilidade? Espero bem que sim...

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    4. Cada vez vou conhecendo mais casos de abortos. Só no meu trabalho conheço 2 situações e acredito que na realidade haverão até mais! Acredito que a maior parte dos abortos com um tempo de gestação até às 12 semanas se deva a más formações no embrião e não duma incompetência do nosso corpo.
      Os negativos sentimos como se fosse mais uma porta ou janela a fecharem-se, é verdade, mas se há tantas histórias felizes por aí, porque não acreditar que a nossa será uma delas também? :)

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  3. Como eu compreendo cada palavra que escreves. Aproveita as férias e tenta abstrair 😉 beijinho

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    1. É bom sentirmos que não estamos sozinhas...

      Beijinho e obrigada :)

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  4. Mais do que o teu marido merecer mais de ti, tu mereces mais de ti, tu mereces ser feliz por ti e não por ele!
    Desculpa meter-me no que não me diz respeito mas passas a vida a dizer que o teu marido merece x e y e z e que tu não lhe consegues dar, mas se calhar ele apenas quer que tu estejas bem (independentemente do vosso desejo de ter filhos) e devias focar-te um bocadinho mais em ti, no que tu queres por ti, no que tu sentes, no que tu não estás a conseguir para ti, eventualmente para vocês porque será um projecto a 2, mas não para ele apenas e acredito que ele seja um marido espectacular mas tu também és uma mulher espectacular que tem passado imensa coisa por um objectivo comum...
    Espero que consigam aproveitar as férias, que vos traga alguma paz e força para o que virá a seguir...

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    1. Ele de facto só quer que eu esteja bem. Aliás eu quero mais um filho que ele. Não que ele não queira, mas muitas vezes me diz precisamente isso: só quer que eu esteja bem e que estamos muito bem só os 2. Para mim é que parece que só os 2 não chega. Com isto quero dizer, que eu faço tudo isto, hormonas, ansiedade, frustrações, essencialmente por mim... por nós e só depois por ele. Não sei se me faço entender?

      Beijinho "mázinha" Love :)
      (Espero que continues por cá a dar-me na cabeça ehehe)

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    2. Desculpa... a intenção não foi dar-te na cabeça porque sim mas sim fazer com que não te esqueças de ti!
      Beijinho grande e olha vais ter de me continuar a aturar :p

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  5. Ai como sei desta dor. Tive um aborto com 5semanas mas nao tive a oportunidade de escutar o coraçao. Nada nem o saco gestacional. Mas o positivo foi a melhor coisa depois da FIV esta sensaçao foi maravilhosa.Mesmo q nao tenha progredido. Suas férias é sua preparaçao pra ser mãe de novo. Pq vc é, nao foi. Vc é! Bjos e torço. Boa sorte.

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  6. Já aqui vim tantas vezes. Já comecei a escrever este comentário tantas, tantas vezes, mas acho que nunca tenho nada acertado e inspirador para te dizer. Acho que precisavas de escrever este post, deve ter sido doloroso, mas acredito no poder catártico da escrita, acredito mesmo, acredito que te fez bem deitar essas emoçoes cá para fora. Depois é uma parvoíce dizer que percebo o que sentes relativo ao aborto. Eu não consigo perceber, não consigo imaginar a dimensão da tristeza, da injustiça e da desilusão. Só sei que se com uma absurda gravidez bioquímica não há dia que não me lembre da minha perda, não há novembro que não me lembre da sua concepção, posso imaginar um pouco o que sentes.
    Já sabes a minha opinião. O que aconteceu não tem explicação, é uma tremenda injustiça, daquelas que faz pôr tudo nesta vida em causa, mas infelizmente acontece muito frequentemente. Na próxima esperamos pelo melhor, acreditamos que vai correr tudo bem. E eu acredito mesmo! Percebo, no entanto, a 100% as tuas dúvidas e os teus medos a infertilidade é assim, e quanto mais lemos e mais sabemos pior! Olha, eu nunca pensei ficar nervosa com os cariotipos e até com esses resultados stressei!
    Percebo quando dizes que te sentes miserável e ainda mais miserável por te sentires miserável e tbm a questão do marido, a infertilidade rouba-nos vida, é triste mas é realidade. Tantas vezes sei isto e percebo isto, o pior é que não consigo sair do ciclo da miséria, falta uma coisa muito importante, tenho medo, não de esperar, mas que essa falta nunca seja preenchida, pois não sei se terei forças para o aceitar.
    Tens lá os teus fresquinhos à espera, vais só aquecer mais um bocadinho ao Dubai para os poderes ir buscar!
    Desculpa o testamemto meio estranho! Desejo-te mesmo o melhor dos melhores a sério, Beijinhos

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  7. E as lágrimas caíram... Entendo tão bem post...como me revejo... o que sentes faz parte do processo. A dor não desaparece...aprendes a lidar com ela.
    Boas Férias!!!
    Beijinhos

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